Poemas do livro Silente / En Silencio 📘
O silêncio. Os poemas deste livro deslizam entre o silêncio. Um silêncio iniciático e um silêncio culminante. Dele se parte e a ele se chega.
El silencio. Los poemas de este libro se deslizan entre el silencio. Un silencio inicial y un silencio culmen. De él se parte y a él se llega.
– Mario Rodríguez García, no posfácio do livro
uma aldeia por entre a névoa
da madrugada
a luz do poste elétrico
fundida
diante da paisagem
repouso o meu peito
espreitando à janela
as figurações
dum quase morte em chama
do que ainda tem pulsação
à procura do que é seu
ou dum alguém
(difuso
etéreo)
só pó
só recordação
da madrugada
a luz do poste elétrico
fundida
diante da paisagem
repouso o meu peito
espreitando à janela
as figurações
dum quase morte em chama
do que ainda tem pulsação
à procura do que é seu
ou dum alguém
(difuso
etéreo)
só pó
só recordação
de madrugada
la luz de la farola
disuelta
ante el paisaje
apoyo mi pecho
espiando por la ventana
la imagen
de la muerte próxima y cálida
de lo que aún tiene pulso
en busca de lo que es suyo
o de alguien
(difuso
etéreo)
solo polvo
solo memoria
sinalizam a solidão
dessa aldeia pessoal e intransferível
quantos milénios foram precisos
para acharmos o nosso lugar
o pedaço de terra que é nosso por inteiro?
lá
habitamos uma casa
com grandes sacadas
para outras casas
marcan la soledad
de esta aldea personal e intransferible
¿cuántos milenios fueron precisos
para encontrar nuestro lugar
el pedazo de tierra que nos pertenece?
allí
habitamos una casa
con grandes balcones
abiertos a otras casas
corrói no silêncio
da família
corroe en el silencio
de la familia
aos dois anos de idade?
a memória escorre
amor sobre as feridas
quem me ensinou a sonhar?
de que voz me falam
que no ventre encerro
um nado-morto
a quem aludem os ancestros
com uma oferenda
ao menos um pouco de paz
um punho contra o plexo
o compasso de anos e anos
com um pé na infância
e outro no futuro
con solo dos años?
la memoria derrama
amor sobre las heridas
¿quién me enseñó a soñar?
de dónde la voz que me dice
que llevo en el vientre
un niño muerto
a quiénes aluden los ancestros
con su ofrenda
al menos un poco de paz
un puño contra el pecho
el tránsito de los años
con un pie en la infancia
y otro en el futuro
nos gestos
no ventre
na fundura
que não alcanço
porque me detenho dobrada
sobre a infância
todos os dias
rememoro o estio
combatemos sempre
donde desertámos
o corpo é o caudal
nas minhas mãos
as fissuras
en los gestos
en el vientre
en lo hondo
que no alcanzo
porque me detengo quebrada
sobre la infancia
todos los días
recuerdo el verano
combatimos siempre
donde desertamos
el cuerpo es el caudal
en mis manos
las grietas
cientes do belo
somos passageiros
não vamos sós
conscientes de la
belleza
somos pasajeros
no vamos solos
somos passageiros
não vamos sós
somos pasajeros
no vamos solos
como o vento
que passa pela árvore
e a agita suavemente
insondável é
o movimento dela
adentrando no real
talvez eu habite
no interior do tronco
e me vá alteando
sem ciência
e assista ao baile de duas vespas
ao acasalamento de dois pirilampos
à maternidade do ninho
à multitude da cor
ao voo sem retorno
à beleza por si só
como el viento
que acaricia los árboles
y los agita con dulzura
insondable es
su movimiento
visto de fuera
quizá yo habite
en su tronco
y me transforme
sin saberlo
y asista al vuelo de las avispas
al apareamiento de las luciérnagas
a la maternidad del nido
al prodigio del color
al vuelo sin regreso
a la belleza sola
volta um pensamento
de amor
ao coração cansado
num corpo que não recorda
a sua eternidade
o homem que sonha
extravasa as costuras
resvala sobre outro corpo
sutura e perscruta
é o vento
caminha até à fé
e cimenta a beleza,
volta um pensamento de amor
que fixa sobre o cume
o nome que damos às coisas
sombrio e intocável
à margem do que suspeitamos
ser ainda mais belo
vuelve un
pensamiento de amor
al corazón cansado
en un cuerpo que no recuerda
su eternidad
el hombre que sueña
rebasa las costuras
se derrama sobre otro cuerpo
sutura e indaga
es el viento
camina hasta creer
e inventa la belleza,
vuelve un pensamiento de amor
que afirma en la cumbre
el nombre que damos a las cosas
oscuro y definitivo
al margen de lo que sospechamos
que es aún más hermoso
*
ao coração cansado
num corpo que não recorda
a sua eternidade
o homem que sonha
extravasa as costuras
resvala sobre outro corpo
sutura e perscruta
é o vento
caminha até à fé
e cimenta a beleza,
volta um pensamento de amor
que fixa sobre o cume
o nome que damos às coisas
sombrio e intocável
à margem do que suspeitamos
ser ainda mais belo
al corazón cansado
en un cuerpo que no recuerda
su eternidad
el hombre que sueña
rebasa las costuras
se derrama sobre otro cuerpo
sutura e indaga
es el viento
camina hasta creer
e inventa la belleza,
vuelve un pensamiento de amor
que afirma en la cumbre
el nombre que damos a las cosas
oscuro y definitivo
al margen de lo que sospechamos
que es aún más hermoso
os corpos se atraem
antes de qualquer
sabedoria
os sentidos se
apuram
para a grande madrugada
mas a mente trai
e o medo trucida
todo e qualquer pensamento de amor
somos menores
não nos atrevemos
perante o precipício
as máscaras não nos permitem voar
los cuerpos se
atraen
al margen de cualquier saber
los sentidos se preparan
para el gran amanecer
pero la mente traiciona
y el miedo confunde
todo y cualquier intuición de amor
somos más pequeños
no nos atrevemos
ante el abismo
las máscaras no permiten volar
*
para a grande madrugada
mas a mente trai
e o medo trucida
todo e qualquer pensamento de amor
somos menores
não nos atrevemos
perante o precipício
as máscaras não nos permitem voar
al margen de cualquier saber
los sentidos se preparan
para el gran amanecer
pero la mente traiciona
y el miedo confunde
todo y cualquier intuición de amor
somos más pequeños
no nos atrevemos
ante el abismo
las máscaras no permiten volar
são nítidas
como os pensamentos dos passageiros
deste trajeto porto-barcelos
a partida é um oráculo
vigiando a minha impaciência
tudo é calmo e claro:
do comboio eu sou o movimento
es nítido
como el pensamiento de los viajeros
de este viaje oporto-barcelos
la partida es un oráculo
atento a mi impaciencia
todo está en calma:
de este tren yo soy el movimiento
e o meu olhar se espraia
num tempo dobrando o tempo
sou uma criança que perscruta
a pulsação do ínfimo
agrego-me multiplico-me
à agitação dos animais e das crianças
caio de amores pelo indizível
aproprio-me da fragrância das flores
e parto em busca do vento
que me traga de novo
a esta imagem
que eu sei de cor
y mi mirar se expande
en un tiempo que esquina al tiempo
soy una niña que atiende
el pulso de lo ínfimo
me sumo me multiplico
a la inquietud de animales y niños
me enamoro de lo indescifrable
me apropio de la fragancia de las flores
y parto en busca del viento
que me devuelva otra vez
a esta imagen
que conozco de memoria
em split os homens
emigram
sem sair do lugar
infinito é flutuar
como aquela ave
vagueio
sem segundas intenções
en split los hombres
emigran
sin salir del lugar
el infinito está flotando
como aquel ave
vago
sin segundas intenciones
*
sem sair do lugar
infinito é flutuar
como aquela ave
vagueio
sem segundas intenções
sin salir del lugar
el infinito está flotando
como aquel ave
vago
sin segundas intenciones
remonta ao oriente
dum pensamento
sou toda escuta e visão
a minha cabeça é um cosmos
dos olhos escorrem-me
possíveis sinais de infinito
não quero ser excelsa
mas transbordam em mim
as cores que ainda não vemos
ainda assim pressentimos
estou no meio dos homens
– sou o silêncio
remonta al oriente
de un pensamiento
permanezco atenta
mi cabeza es un cosmos
de los ojos me resbalan
posibles señales del infinito
no quiero ser importante
pero me atraviesan
los colores que no vemos
aunque los intuyamos
habito entre los hombres
– soy el silencio
Alguns poemas do livro "Silente / En Silencio", em edição bilingue reversa português-espanhol. O livro foi publicado no Brasil, em 2021, pela editora Laranja Original. As traduções para o espanhol são de Mario Rodríguez García.