Mario Benedetti (Uruguai)
DEFENSA
DE LA ALEGRÍA
Defender
la alegría como una trinchera
defenderla
del escándalo y la rutina
de la
miseria y los miserables
de
las ausencias transitorias
y las
definitivas
defender
la alegría como un principio
defenderla
del pasmo y las pesadillas
de
los neutrales y de los neutrones
de
las dulces infamias
y los
graves diagnósticos
defender
la alegría como una bandera
defenderla
del rayo y la melancolía
de
los ingenuos y de los canallas
de la
retórica y los paros cardiacos
de
las endemias y las academias
defender
la alegría como un destino
defenderla
del fuego y de los bomberos
de
los suicidas y los homicidas
de
las vacaciones y del agobio
de la
obligación de estar alegres
defender
la alegría como una certeza
defenderla
del óxido y la roña
de la
famosa pátina del tiempo
del
relente y del oportunismo
de
los proxenetas de la risa
defender
la alegría como un derecho
defenderla
de dios y del invierno
de
las mayúsculas y de la muerte
de
los apellidos y las lástimas
del
azar
y
también de la alegría.
*
DEFESA DA ALEGRIA
Defender a alegria como uma
trincheira
defendê-la do escândalo e da
rotina
da miséria e dos miseráveis
das ausências transitórias
e das definitivas
defender a alegria como um
princípio
defendê-la do pasmo e dos
pesadelos
dos neutros e dos nêutrons
das doces infâmias
e dos graves diagnósticos
defender a alegria com uma
bandeira
defendê-la do raio e da
melancolia
dos ingênuos e dos canalhas
da retórica e da parada cardíaca
das endemias e das academias
defender a alegria como um
destino
defendê-la do fogo e dos
bombeiros
dos suicidas e dos homicidas
do descanso e do cansaço
da obrigação da alegria
defender a alegria como uma
certeza
defendê-la da ferrugem e da sarna
da célebre pátina do tempo
do relento e do oportunismo
dos rufiões do riso
defender a alegria como um
direito
defendê-la de deus e do inverno
das maiúsculas e da morte
dos sobrenomes e das lástimas
do acaso
e também da alegria
*
NO TE SALVES
No te quedes inmóvil
al borde del camino
no congeles el júbilo
no quieras con desgana
no te salves ahora
ni nunca
no te salves
no te llenes de calma
no reserves del mundo
sólo un rincón tranquilo
no dejes caer los párpados
pesados como juicios
no te quedes sin labios
no te duermas sin sueño
no te pienses sin sangre
no te juzgues sin tiempo
pero si
pese a todo
no puedes evitarlo
y congelas el júbilo
y quieres con desgana
y te salvas ahora
y te llenas de calma
y reservas del mundo
sólo un rincón tranquilo
y dejas caer los párpados
pesados como juicios
y te secas sin labios
y te duermes sin sueño
y te piensas sin sangre
y te juzgas sin tiempo
y te quedas inmóvil
al borde del camino
y te salvas
entonces
no te quedes conmigo.
*
NÃO TE SALVES
Não fiques imóvel
ao pé do caminho
não congeles o júbilo
não queiras com desapego
não te salves agora
nem nunca
não te salves
não te enchas de calma
não reserves do mundo
um só recanto tranquilo
não deixes descair as pálpebras
pesadas como juízos
não fiques sem lábios
não durmas sem sono
não penses em sangue
não te julgues sem tempo
mas sim
apesar de tudo
não podes evitá-lo
e congelas o júbilo
e queres com desapego
e salvas-te agora
e enches-te de calma
e reservas do mundo
um só recanto tranquilo
e deixas descair as olheiras
pesadas como juízos
e secas sem lábios
e dormes sem sono
e pensas sem sangue
e julgas sem tempo
e ficas imóvel
ao pé do caminho
e salvas-te
então
não fiques comigo.
*
PEQUEÑAS MUERTES
Los sueños son pequeñas muertes
tramoyas anticipos simulacros de muerte
el despertar en cambio nos parece
una resurrección y por las dudas
olvidamos cuanto antes lo soñado
a pesar de sus fuegos sus cavernas
sus orgasmos sus glorias sus espantos
los sueños son pequeñas muertes
por eso cuando llega el despertar
y de inmediato el sueño se hace olvido
tal vez quiera decir que lo que ansiamos
es olvidar la muerte
apenas eso.
*
PEQUENAS MORTES
Os sonhos são pequenas mortes
tramoias antecipações simulacros de morte
o despertar pelo contrário parece-nos
uma ressurreição e na dúvida
esquecemos quanto antes o que sonhamos
apesar dos seus incêndios, das suas cavernas,
dos seus orgasmos, das suas glórias, dos seus espantos
os sonhos são pequenas mortes
por isso quando chega o despertar
e imediatamente o sonho vira esquecimento
talvez queira dizer que o que ansiamos
é esquecer a morte
apenas isso.
*
Mario Benedetti (Paso de los Toros, Uruguai, 1920-2009)
Tradução:
Fabiano Calixto (do poema "Defesa da alegria") e Sandra Santos
Fabiano Calixto (do poema "Defesa da alegria") e Sandra Santos