Berta Dávila (Espanha)
DENTRO
I
Coñecinche coas pálpebras
molladas
e a mirada perdida alén da
fiestra.
E será porque amaba a auga toda
do teu corpo
que bebín insaciable nas túas
bágoas
ata que algunhas me fixeron mal.
Descubriches que morro cada día
(xa dende o mesmo día en que
nacín)
e, ao estares sen min,
anulábaste nun loito
inconfesable.
Pese a que nunca fun demasiado
purista (a luz artificial tamén é luz)
amo o tacto,
e creo que as cartas non suplen
ás caricias.
Sempre me corto cos folios
que conteñen as túas palabras,
e a ferida do dedo axúdame a
sandar
outra ferída máis fonda,
esa que levo debaixo das
pálpebras
molladas de presencias ausentes.
*
DENTRO
I
Conheci com as pálpebras molhadas
e o olhar perdido além da janela.
E será porque amava a água do teu
corpo
que bebi insaciável nas tuas
lágrimas
até que algumas me fizeram mal.
Descobriste que morro a cada dia
(já desde o dia em que nasci)
e, ao estares sem mim,
anulavas-te num luto inconfessável.
Embora nunca tenha sido demasiado
purista (a luz artificial também é luz)
amo o tacto,
e creio que as cartas não suprem
as carícias.
Sempre me corto com os fólios
que contêm as tuas palavras,
e a ferida do dedo ajuda-me a
sanar
outra ferida mais funda,
essa que levo debaixo das
pálpebras
molhadas de presenças ausentes.
*
O FROITO
Mentres escribo
meu pai afunde as mans na terra
e deixa unha semente.
Loitamos corpo a corpo
os dous,
el co suco, eu co poema.
E así é como aprendín
a perseguir o froito.
*
O FRUTO
Enquanto escrevo
o meu pai afunda as mãos na terra
e deixa uma semente.
Lutamos corpo a corpo
os dois,
ele com o suco, eu com o poema.
E assim é como aprendi
a perseguir o fruto.
*
O POEMA
cando entres neste cuarto
tes que contar os pasos
para orientarte
camiñar
ás apalpadas
procurando
non cortarte
esta
vez
escoitar
en silencio
as respiracións de todos os que
asexan
e adiviñar se a multitud
terá os ollos abertos
na escuridade
*
O POEMA
Quando entres neste quarto
tens de contar os passos
para orientar-te
caminhar às apalpadelas
procurando não cortar-te
esta vez
escutar em silêncio
as respirações de todos os que
vigiam
e adivinhar se a multidão
terá os olhos abertos na
escuridão
*
Porque non houbo velenos que me
devorasen,
tiven que aprender da pedra a
arte do definitivo,
mergullar as mans na neve para
facerme forte
e vestirme de frío por pechar ese
círculo inconcluso
que ti trazas con xiz sobre o meu
ventre.
Non haberá rutinas que me amparen
nin
mercurios que rematen comigo.
Non podo facer máis que escoar as
miñas veas mansas
sobre o teu corpo, e agardar
que
non existan os antídotos.
Que
non existan.
*
Porque não houve venenos que me
devorassem,
tive de aprender da pedra a arte
do definitivo,
mergulhar as mãos na neve para
fazer-me forte
e vestir-me de frio para fechar o
círculo inconcluso
que traças com giz sobre o meu
ventre.
Não haverá rotinas que me amparem
nem mercúrios que comigo acabem.
Não posso fazer mais que escorrer
minhas veias mansas
sobre o teu corpo, e esperar
que não existam os antídotos.
Que não existam.
*
Primeiro
chegou o espertar das sílabas
como o ferver espeso dun volcán,
e a terra derretida atravesándose
igual
que un corazón.
Despois
abrimos
unha fenda que era limiar hipnótico,
unha
ruptura como un parto.
E así foi a palabra
antes da cousa
á que chamaba.
*
Primeiro
chegou o despertar das sílabas
como o fervor espesso de um
vulcão,
e a terra derretida
atravessando-se
igual a um coração.
Depois
abrimos uma fenda que era limiar
hipnótico,
uma ruptura como um parto.
E assim foi a palavra
antes da coisa
a que chamava.
*
Berta Dávila (Santiago de Compostela, Espanha, 1987)
Tradução:
Sandra Santos