Poemas de António Osório


CADA SEGUNDO

Não desejo a indigência,
a serenidade
dos lugares desertados:
desejo que cada segundo
quando amo
                         explodisse
e fosse a terra
em sua expansão
durante a primeira noite,
a gestante,
do mundo. 



*


O CANTO DO CISNE

Nunca o ouvi.
Que seja inextinguível.
Ou então silencioso
por pudor e tremendo
de raiva.
E que dure o bastante
para que nada fique por cantar.



*


UM SENTIDO

Porque há um sentido
no lírio, incensar-se;
e no choupo, erguer-se;
e na urze arborescente,
ampliar-se;
e no cobre, primeira cura,
que dou à vinha,
procriar-se.

E outro, pressago,
sentido há na memória,
explodir-se. E outro, imensurável,
no amor, entregar-se.
E outro, definitivo,
na morte, render-se. 


*






António Osório (Setúbal, Portugal; 1933)

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