Maria Azenha (Portugal)
espelhos crianças
as crianças escrevem
a sua alegria
onde o poema é mais obscuro
saltam os instantes
de muro
em
muro
regressam
brancas
trespassadas pelo lume
uma delas disse:
quando crescer vou ser a lua
*
espejos
niños
los
niños escriben
su
alegría
donde
el poema es más oscuro
saltan
los instantes
de
muro
en
muro
regresan
blancos
traspasados
por la flama
uno
de ellos dijo:
cuando
crezca voy a ser la luna
--
retrato
a luz repousa na forma nua do
retrato
como um primeiro sopro que veio
da noite
sempre ela segue a linha recta
cada traço cada sombra
que nomeia ou que descreve
não sabemos se o inventa
ou se o liberta
*
retrato
la
luz reposa en la forma desnuda del retrato
como
un primer soplo que vino de la noche
ella
sigue siempre la línea recta
cada
trazo cada sombra
que
nombra o que describe
no
sabemos si lo inventa
o
si lo liberta
--
o
coração dos espelhos
há um espelho que canta
e bate na cara e
sangra
atiro o desenho da sombra
da escrita
ao primeiro degrau. e os olhos
das aves
cegam.
é uma escada
de
luz
e
trevas
uma escada de água.
atiro a segunda pedra
à sombra
do segundo degrau
avanço na ondulação difícil da
casa.
el coração dos espelhos é alto
tão
alto
*
el
corazón de los espejos
hay
un espejo que canta
y
bate en la cara y
sangra
lanzo
el dibujo de la sombra
de
la escrita
al
primer escalón. y los ojos de las aves
ciegan.
es
un escalón
de
luz
y
sombras
un
escalón de agua.
lanzo
la segunda piedra
a
la sombra
del
segundo escalón
avanzo
en la ondulación difícil de la casa.
el
corazón de los espejos es alto
tan alto
--
assim
de frente ao espelho
assim de frente
ao espelho
eu tu
ut
ue
por dentro
uos
sou
na vida an adiv
na morte na etrom
de frente
sem
tempo
tu ut
ue
Um
*
así frente al espejo
así
frente
al
espejo
yo
tú
út
oy
por
de dentro
yos
soy
en
la vida ne al adiv
en
la morte ne al etrom
en
frente
sin
tiempo
tú
út
oy
Uno
--
É
Outono, como sabes
É
Outono, como sabes.
O chão forrado a vento e ouro
eterniza a última estação
resumida pelo Sol
sobre os meus ombros.
O chão forrado a vento e ouro
eterniza a última estação
resumida pelo Sol
sobre os meus ombros.
No
chão há uma rosa que ninguém conhece.
Essa não sou eu.
Essa não sou eu.
No
meu colo há um berço.
Junto a ele, o teu nome de neve
percorrido pela música
de Vénus.
Junto a ele, o teu nome de neve
percorrido pela música
de Vénus.
Vê.
Dá-me a tua mão.
Dá-me a tua mão.
É
tudo quanto eu peço.
*
Es otoño, como sabes
Es
otoño, como sabes.
El
suelo forrado a viento y oro
eterniza
la última estación
resumida
por el Sol
encima
de mis hombros.
En
el suelo hay una rosa que nadie conoce.
Esa
no soy yo.
En
mi regazo hay una cuna.
Junto
a ella, tu nombre de nieve
calcorreado
por la música
de
Venus.
Mira.
Dame
tu mano.
Es
todo lo que te pido.
--
Maria Azenha
(1945; Coimbra, Portugal)