Emma Villazón (Bolívia)


PARLAMENTO

No se aleja quien nunca se va,
sale por la puerta real o irreal
y se despide en tono de lluvia ascendente o pájaro.
Nadie parte fácilmente y quizás nunca del todo
de instancias mayores, sobre todo
del lugar del origen, de esa torre ambigua
y amenazadora, siempre hambrienta de sueños idénticos.
No hay quien no requiera tiempo y fricción
para alcanzar la corrida en pos de su lengua.
El punto de tensión entonces
no reside en la cantidad de escenas y abrazos que aletean
o qué ciudad a mediodía se abandona, sino con qué
perfiles, llaves, piernas de sombra y cielos plegables
se parte, con qué
gigantes en sonrisas
— dijo aquella que se va
en la intersección del pájaro



*


PARLAMENTO

Não se aparta quem nunca se vai,
pela porta real ou irreal sai
e despede-se em tom de pássaro ou chuva ascendente.
Ninguém parte facilmente e talvez nunca de todo
de instâncias maiores, sobretudo
do lugar de origem, dessa torre ambígua
e ameaçadora, sempre ávida de sonhos idênticos.
Não há quem não requeira de tempo e fricção
para alcançar a corrida em busca da sua língua.
O ponto de tensão
não reside então na quantidade de cenas e abraços agitando-se
ou que cidade ao meio-dia se larga, mas sim com que
perfis, chaves, pernas de sombra e céus desdobráveis
se parte, com que
gigantes em sorrisos
— disse aquela que se vai
na intersecção do pássaro




*



TU A Y TU E

Cuando nace un ruido o pensamiento
no se desvanece el otro, el antiguo;
ambos se juntan en gimnasia oleosa,
se sostienen y fluctúan para darse cabida
en los días y hacer un vivo tiempo medio preso.
Botones los días tejen tu abrigo de pasado y mañana.
Así el niño con manos maternas jala al joven,
y veo de tantos seres estar llena tu boca,
una pecera con prolíficos trémulos estambres.
De tantas alegrías y ahogos bailar llena tu luz
y tu a tu e aperturantes en el poema desnudo
que vos, vos nunca podrías tener un Único nombre
                                             ni alguien



*


TU A E TU E

Quando nasce um ruído ou pensamento
não se desvanece o outro, o antigo;
ambos unem-se em ginástica oleosa,
sustêm-se e flutuam para dar porte
aos dias e fazer um vivo tempo meio preso.
Botões os dias tecem o teu casaco passado e manhã.
Assim o menino com mãos maternas puxa o jovem,
e vejo de tantos seres estar cheia a tua boca,
um aquário com profícuos trémulos estames.
De tantas alegrias e afogos dançar cheia a tua luz
e tu a tu e abertos no poema desnudo
que tu, tu nunca poderias ter um Único nome
                                                nem ninguém




*




VENTANA VIOLETA

Con el rigor del alba
los pies conocieron al miedo y su rocío
arrinconados, mirando una oleada de trinos,
quisieron modular como caracoles
la necesidad de huir a lo oscuro.

Igual que peregrino traspasados por la luna
su emergencia residió en una sed desastrosa
por retroceder sillas, tareas, respuestas,
y desmantelar al presente con sus raíces.
La desesperanza en este mundo fue rey;
pero el cuerpo de la joven esposa que soy
aprendió a mirar ahorcados en las nubes:

como un anillo, tú resplandecías en el agua de mis ojos.



*



JANELA VIOLETA

Com o rigor do alvorecer
os pés conheceram o medo e o seu rocio
desdenhados, contemplando uma ressaca de trinados,
quiseram entoar como caracóis
a necessidade de fugir ao escuro.

Tal como o peregrino trespassados pela lua
a sua emergência residiu numa sede adversa
por recuar cadeiras, respostas, tarefas,
e desmantelar o presente com as suas raízes.
A desesperança neste mundo foi rei;
mas o corpo da jovem esposa que sou
aprendeu a olhar enforcados na nuvens:

como um anel, tu resplandecias na água dos meus olhos.




*



BREVE HOMENAJE

Fue mi vida en ti, oh viento,
como unas trémulas flores
en las manos precisas,
que nunca lograron sentir tu ritmo



*


BREVE HOMENAGEM

Foi a minha vida em ti, oh vento,
como umas trémulas flores
nas mãos precisas,
que nunca lograram sentir o teu ritmo



*




Emma Villazón 
(Santa Cruz de la Sierra, Bolívia; 1983-2015)

Tradução: Sandra Santos


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