José Hierro (Espanha)
RESPUESTA
Quisiera que tú me entendieses a mí sin palabras.
Sin palabras hablarte, lo mismo que se habla mi gente.
Que tú me entendieses a mí sin palabras,
como entiendo yo al mar o a la brisa enredada en un álamo
verde.
Me pregunto, amigo, y no sé qué respuesta he de darte.
Hace ya mucho tiempo aprendí hondas razones que tú no comprendes.
Revelarlas quisiera, poniendo en mis ojos el sol
invisible,
la pasión con que dora la tierra sus frutos calientes.
Me preguntas, amigo, y no sé qué respuesta he de darte.
Siento arder una loca alegría en la luz que me envuelve.
Yo quisiera que tú la sintieras también inundándote el
alma,
yo quisiera que a ti, en lo más hondo, también te quemase
y te hiriese.
Criatura también de alegría quisiera que fueras,
criatura que llega por fin a vencer la tristeza y la
muerte.
Si ahora yo te dijese que había que andar por ciudades
perdidas
y llorar en sus calles oscuras sintiéndose débil,
y cantar bajo un árbol de estío tus sueños oscuros,
y sentirse hecho de aire y de nube y de hierba muy verde…
Si ahora yo te dijera
que es tu vida esa roca en que rompe la ola,
la flor misma que vibra y se llena de azul bajo el claro
nordeste,
aquel hombre que va por el campo nocturno llevando una antorcha
aquel niño que azota la mar con su mano inocente…
Si yo te dijera estas cosas, amigo,
¿qué fuego pondría en mi boca, qué hierro candente,
qué olores, colores, sabores, contactos, sonidos?
Y ¿cómo saber si me entiendes?
¿Cómo entrar en tu alma rompiendo sus hielos?
¿Cómo hacerte sentir para siempre vencida la muerte?
¿Cómo ahondar en tu invierno, llevar a tu noche la luna,
poner en tu oscura tristeza la lumbre celeste?
Sin palabras, amigo; tenía que ser sin palabras
como tú me entendieses.
*
RESPOSTA
Quisera que tu me entendesses a mim sem palavras.
Sem palavras falar-te, o mesmo que fala a minha gente.
Que tu me entendesses a mim sem palavras,
como entendo eu o mar ou a brisa enredada num álamo verde.
Pergunto-me, amigo, e não sei que resposta hei-de dar-te.
Faz muito tempo que aprendi fundas razões que tu não compreendes.
Revelá-las quisera, pondo em meus olhos o sol invisível,
A paixão com que doura a terra os seus frutos quentes.
Perguntas-me, amigo, e não sei que resposta hei-de dar-te.
Sinto arder uma louca alegria na luz que me envolve.
Quisera eu que tu também a sentisses inundar-te a alma,
quisera eu que a ti, no mais fundo, também te queimasse e te ferisse.
Criatura também de alegria quisera que fosses,
criatura que por fim chega a vencer a tristeza e a morte.
Se agora eu te dissesse que se tinha de andar por cidades perdidas
e chorar nas suas ruas escuras sentindo-se débil,
e cantar sob uma árvore de estio os teus sonhos umbrosos,
e sentir-se feito de ar e de nuvem e de erva muito verde…
Se agora eu te dissesse
que a tua vida é essa rocha em que rompe a onda,
a própria flor que vibra e de azul se preenche sob o claro nordeste,
aquele homem que vai pelo campo nocturno levando uma tocha
aquele menino que açoita o mar com a sua mão inocente…
Se eu te dissesse estas coisas, amigo,
que fogo poria na minha boca, que ferro ardente,
que cores, sons, odores, contactos, sabores?
E como saber se me entendes?
Como entrar na tua alma rompendo o gelo?
Como fazer-te sentir para sempre vencida a morte?
Como penetrar no teu Inverno, levar à tua noite a lua,
pôr na tua escura tristeza o lume celeste?
Sem palavras, amigo; tinha de ser sem palavras
como tu me entendesses.
*
CANCIÓN DE CUNA PARA DORMIR A
UN PRESO
La gaviota sobre el pinar.
(La mar resuena.)
Se acerca el sueño. Dormirás,
soñarás, aunque no lo quieras.
La gaviota sobre el pinar
goteado todo de estrellas.
Duerme. Ya tienes en tus manos
el azul de la noche inmensa.
No hay más que sombra. Arriba, luna.
Peter Pan por las alamedas.
Sobre ciervos de lomo verde
la niña ciega.
Ya tú eres hombre, ya te duermes,
mi amigo, ea…
Duerme, mi amigo. Vuela un cuervo
sobre la luna, y la degüella.
La mar está cerca de ti,
muerde tus piernas.
No es verdad que tu seas hombre;
eres un niño que no sueña.
No es verdad que tú hayas sufrido:
son cuentos tristes que te cuentan.
Duerme. La sombra toda es tuya,
mi
amigo, ea…
Eres un niño que está serio.
Perdió la risa y no la encuentra.
Será que habrá caído al mar,
la habrá comido una ballena.
Duerme, mi amigo, que te acunen
campanillas y panderetas,
flautas de caña de son vago
amanecidas en la niebla.
No es verdad que te pese el alma.
El alma es aire y humo y seda.
La noche es vasta. Tiene espacios
para volar adonde quieras,
para llegar al alba y ver
las aguas frías que despiertan,
las rocas grises, como el casco
que tú llevabas a la guerra.
La noche es amplia, duerme, amigo,
mi amigo, ea…
La noche es bella, está desnuda,
no tiene límites ni rejas.
No es verdad que tú hayas sufrido,
son cuentos tristes que te cuentan.
Tu eres un niño que está triste,
eres un niño que no sueña.
Y la gaviota está esperando
para venir cuando te duermas.
Duerme, ya tienes en tus manos
el azul de la noche inmensa.
Duerme, mi amigo…
Ya se duerme
mi amigo, ea…
*
CANÇÃO DE BERÇO PARA ADORMECER UM PRESO
A gaivota sobre o pinhal.
(O mar ressoa.)
Aproxima-se o sono. Dormirás,
sonharás, mesmo que não o queiras.
A gaivota sobre o pinhal
ponteado todo de estrelas.
Dorme. Já tens em tuas mãos
o azul da noite imensa.
Não há mais que sombra. Acima, a lua.
Peter Pan pelas alamedas.
Sobre os cervos de lombo verde
a menina cega.
Já és homem, já dormes,
meu amigo, ea…
Dorme, meu amigo. Voa um corvo
sobre a lua, e degola-a.
O mar está próximo de ti,
morde as tuas pernas.
Não é verdade que sejas homem;
és um menino que não sonha.
Não é verdade que tenhas sofrido:
são contos tristes que te contam.
Dorme. A sombra toda é tua,
meu amigo, ea…
És um menino que está sério.
Perdeu o sorriso e não o acha.
Será que terá caído ao mar,
uma baleia o terá comido.
Dorme, meu amigo, que te embalem
sinos e pandeiretas,
flautas de cana de som vago
amanhecidas na névoa.
Não é verdade que te pese a alma.
A alma é ar e fumo e seda.
A noite é vasta. Tem espaços
para voar onde queiras,
para chegar ao alvor e ver
as águas frias que despertam,
as rochas cinéreas, como o elmo
que levavas para a guerra.
A noite é ampla, dorme, amigo,
meu amigo, ea…
A noite é bela, está desnuda,
não tem limites nem celas.
Não é verdade que tenhas sofrido,
são contos tristes que te contam.
Tu és um menino que está triste,
és um menino que não sonha.
E a gaivota está à espera
de vir enquanto durmas.
Dorme, já tens em tuas mãos
o azul da noite imensa.
Dorme, meu amigo…
Já dorme
meu amigo, ea…
(O mar ressoa.)
Aproxima-se o sono. Dormirás,
sonharás, mesmo que não o queiras.
A gaivota sobre o pinhal
ponteado todo de estrelas.
Dorme. Já tens em tuas mãos
o azul da noite imensa.
Não há mais que sombra. Acima, a lua.
Peter Pan pelas alamedas.
Sobre os cervos de lombo verde
a menina cega.
Já és homem, já dormes,
meu amigo, ea…
Dorme, meu amigo. Voa um corvo
sobre a lua, e degola-a.
O mar está próximo de ti,
morde as tuas pernas.
Não é verdade que sejas homem;
és um menino que não sonha.
Não é verdade que tenhas sofrido:
são contos tristes que te contam.
Dorme. A sombra toda é tua,
meu amigo, ea…
És um menino que está sério.
Perdeu o sorriso e não o acha.
Será que terá caído ao mar,
uma baleia o terá comido.
Dorme, meu amigo, que te embalem
sinos e pandeiretas,
flautas de cana de som vago
amanhecidas na névoa.
Não é verdade que te pese a alma.
A alma é ar e fumo e seda.
A noite é vasta. Tem espaços
para voar onde queiras,
para chegar ao alvor e ver
as águas frias que despertam,
as rochas cinéreas, como o elmo
que levavas para a guerra.
A noite é ampla, dorme, amigo,
meu amigo, ea…
A noite é bela, está desnuda,
não tem limites nem celas.
Não é verdade que tenhas sofrido,
são contos tristes que te contam.
Tu és um menino que está triste,
és um menino que não sonha.
E a gaivota está à espera
de vir enquanto durmas.
Dorme, já tens em tuas mãos
o azul da noite imensa.
Dorme, meu amigo…
Já dorme
meu amigo, ea…
*
ALEGRÍA
Llegué por el dolor a la alegría.
Supe por el dolor que el alma existe.
Por el dolor, allá en mi reino triste,
un misterioso sol amanecía.
Era alegría la mañana fría
y el viento loco y cálido que embiste.
( Alma que verdes primaveras viste
maravillosamente se rompía. )
Así la siento más. Al cielo apunto
y me responde cuando le pregunto
con dolor tras dolor para mi herida.
Y mientras se ilumina mi cabeza
ruego por el que he sido en la tristeza
a las divinidades de la vida.
*
ALEGRIA
Cheguei
pela dor à alegria.
Soube
pela dor que a alma existe.
Pela
dor, além no meu reino triste,
um
misterioso sol amanhecia.
Era
a alegria a manhã fria
E
o vento louco e cálido que investe
(Alma
que verdes primaveras viste
Maravilhosamente
rompia.)
Assim
a sinto mais. Ao céu aponto
e
me responde quando lhe pergunto
com
dor atrás de dor para a minha ferida.
E enquanto se ilumina a minha cabeça
rogo pelo que fui na tristeza
às divindades da vida.
*
ALEGRÍA INTERIOR
En mí la siento aunque se esconde. Moja
mis oscuros caminos interiores.
Quién sabe cuántos mágicos rumores
sobre el sombrío corazón deshoja.
A veces alza en mí su luna roja
o me reclina sobre extrañas flores.
Dicen que ha muerto, que de sus verdores
el árbol de mi vida se despoja.
Sé que no ha muerto, porque vivo. Tomo,
en el oculto reino en que se esconde,
la espiga de su mano verdadera.
Dirán que he muerto, y yo no muero.¿Cómo
podría ser así, decidme, dónde
podría ella reinar si yo muriera?
*
ALEGRIA INTERIOR
Em
mim a sinto embora se esconda. Molha
meus
escuros caminhos interiores.
Quem
sabe quantos mágicos rumores
Sobre
o sombrio coração desfolha.
Às
vezes alça em mim a sua lua rubra
ou
me reclina sobre estranhas flores.
Dizem
que morreu, que de seus verdores
a
árvore da minha vida se esbulha.
Sei
que não morreu, porque vivo. Tomo,
no
oculto reino em que se esconde,
A
espiga da sua mão verdadeira.
Dirão que morri, e eu não morro.
Como
poderia ser assim, dizei-me, onde
poderia ela reinar se eu
morresse.
*
ALMA DORMIDA
Me tendí sobre la hierba entre los troncos
que hoja a hoja desnudaban su belleza.
Dejé el alma que soñase:
volvería a despertar en primavera.
Nuevamente nace el mundo, nuevamente
naces, alma (estabas muerta).
Yo no sé lo que ha pasado en este tiempo:
tú dormías, esperando ser eterna.
Y por mucho que te cante la alta música
de las nubes, y por mucho que te quieran
explicar las criaturas por qué evocan
aquel tiempo negro y frío, aunque pretendas
hacer tuya tanta vida derramada
(era vida, y tú dormías), ya no llegas
a alcanzar la plenitud de su alegría:
tú dormías cuando todo estaba en vela.
Tierra nuestra, vida nuestra, tiempo nuestro...
(Alma mía, ¡quién te dijo que durmieras!)
*
ALMA ADORMECIDA
Estirei-me
sobre a erva entre os troncos
que
folha a folha desnudavam a sua beleza.
Deixei
a alma que sonhasse:
voltaria
a despertar na Primavera.
Novamente
nasce o mundo, novamente
nasces,
alma (estavas morta).
Eu
não sei o que se passou neste tempo:
tu
dormias, esperando ser eterna.
E
por muito que te canta a alta música
das
nuvens, e por muito que te queiram
explicar
as criaturas por que evocam
aquele
tempo negro e frio, ainda que pretendas
fazer
tua tanta vida derramada
(era
vida, e tu dormias), já não chegas
a
alcançar a plenitude da sua alegria:
tu
dormias quando tudo era vigília.
Terra
nossa, vida nossa, tempo nosso
(Alma
minha, quem te disse que dormisses!)
*
AMANECER
Imagínate tú...
Imagínatelo
tú por un momento.
R. A.
La estrella aún flotaba en las aguas.
Río abajo, a la noche del mar, la llevó la corriente.
Y de pronto la mágica música errante en la sombra
se apagó, sin dolor, en el fresco silencio silvestre.
Imagínate tú, piensa sólo un instante,
piensa sólo un instante que el alma comienza a caerse.
(Las hojas, el canto del agua que sólo tú escuchas:
maravilloso silencio que pone en las tuyas su mano
evidente.)
Piensa sólo un instante que has roto los diques y flotas
sin tiempo en la noche,
que eres carne de sombra, recuerdo de sombra; que sombra
tan sólo te envuelve.
Piensa conmigo «¡tan bello era todo, tan nuestro era
todo, tan vivo era todo,
antes que todo se desvaneciese!»
Imagínate tú que hace siglos que has muerto.
No te preguntan las cosas, si pasas, quién eres.
Procura un instante pensar que tus brazos no pesan.
Son nada más que dos cañas, dos gotas de lluvia, dos
humos calientes.
(¡Tan bello era todo, tan nuestro era todo, tan vivo era
todo!)
Y cuando creas que todo ante ti perfecciona su muerte,
abre los ojos:
El trágico hachero
saltaba los montes,
llevaba una antorcha en la mano, incendiaba los
bosques nacientes.
El río volvía a mojar las orillas que dan a tu vida.
El prodigio era tuyo y te hacías así vencedor de la
muerte.
*
AMANHECER
Imagina tu…
Imagina-o tu por um momento.
R. A.
A
estrela ainda flutuava nas águas.
Rio
abaixo, a noite do mar, a corrente levou-a.
E
logo a mágica música errante na sombra
se
apagou, sem dor, no fresco silêncio silvestre.
Imagina
tu, pensa só por um instante,
pensa
só por um instante que a alma começa a cair.
(As
folhas, o canto da água que só tu escutas:
maravilhoso
silêncio que põe nas tuas a sua mão evidente.)
Pensa
só por um instante que rompeste os diques e frotas sem tempo na noite,
Que
és carne de sombra, lembrança de sombra; que a sombra tão somente te envolve.
Pensa
comigo «tão belo era tudo, tão nosso er tudo, tão vivo era tudo, antes que tudo
se desvanecesse!»
Imagina
tu que morreste há séculos.
Não
te perguntam as coisas, se passas, quem és.
Procura
um instante pensar que os teus braços não pesam.
São
nada mais que duas canas, duas gotas de chuva, dos fumos quentes.
(Tão
belo era tudo, tão nosso era tudo, tão vivo era tudo!)
E
quando aches que tudo diante de ti aperfeiçoa a sua morte,
abre
os olhos:
O trágico lenhador calcorreava os montes,
levava
uma tocha na mão, incendiava os bosques nascentes.
O
rio voltava a molhar a encosta que move a tua vida.
O
prodígio era teu e volvias-te assim vencedor da morte.
*
COMO LA ROSA: NUNCA...
Como la rosa: nunca
te empañe un pensamiento.
No es para ti la vida
que te nace de dentro.
Hermosura que tenga
su ayer en su momento.
Que en sólo tu apariencia
se guarde tu secreto.
Pasados no te brinden
su inquietante misterio.
Recuerdos no te nublen
el cristal de tus sueños.
Cómo puede ser bella
flor que tiene recuerdos.
*
COMO
A ROSA: NUNCA…
Como
a rosa: nunca
te
turve um pensamento.
Não
é para ti a vida
Que
te nasce de dentro.
Formusura
que tenha
seu
ontem em seu momento.
Que
em só tu aparência
se
guarde o teu segredo.
Passados
não te brindem
o
seu inquietante mistério.
Recordações
não te embaciem
o
cristal dos teus sonhos.
Como
pode ser bela
a
flor que tem recordações.
*
CORAZÓN QUE TE HIERE
Corazón que te hieren
con una rama verde.
Llegó a mi lado. Era
el momento más fuerte
que el recuerdo. Es hoy todo
inolvidable. El verde
de los álamos es
vida. Los cielos tienen
azul de amor sereno
que aún ignora la muerte.
Llega a mi lado. Trae
una rama. (Parece
la verde primavera
que entre sus manos duerme.)
Oh, qué felicidad.
Las brisas, cómo mecen.
Ella saca a las flores
de su encanto silvestre.
Ella toca de gracia
el áspero presente.
Llega a mi lado. Trae
una rama. (Se mueve
irreal: su elemento
es la música. Viene
quebrando los silencios
maravillosamente. )
Entre sus manos es
la rama una serpiente
de luz, un río frágil,
bandera transparente
que pone en este ensueño
su alegría evidente.
(Por la rama comprendo
que estamos vivos. Este
instante no es un sueño
que pasa y no nos mueve.)
Es un látigo frágil,
una llama en que beben
nuestros ojos.
¿Por qué
la ceñiste a mis sienes 40
como si fuera el único
dios a quien perteneces?
¡Por qué te he preguntado
si ceñiste otras sienes!
Corazón, te han herido
con una rama verde.
*
CORAÇÃO
QUE TE FERE
Coração
que te ferem
com
um ramo verde.
Chegou
a meu lado. Era
o
momento mais forte
que
a recordação. É hoje tudo
inesquecível.
O verde
dos
alámos é
vida.
Os céus têm
azul
de amor sereno
que
ainda ignora a morte.
Coração
que te fere
Chega
a meu lado. Traz
Um
ramo. (Parece
a
verde primavera
que
entre as suas mãos dorme.)
Oh,
que felicidade.
As
brisas, como ondeiam.
Ela
retira das flores
o
seu encanto silvestre.
Ela
toca de graça
o
áspero presente.
Chega
a meu lado. Traz
Um
ramo. (Move-se
irreal:
o seu elemento
é
a música. Vem
quebrando
os silêncios
maravilhosamente.)
Entre
as suas mãos é
o
ramo uma serpente
de
luz, um rio frágil,
bandeira
transparente
que
põe neste enleio
a
sua alegria evidente.
(Pelo
ramo percebo
que
estamos vivos. Este
instante
não é um sonho
que
passa e não nos move.)
É
um chicote frágil,
uma
chama em que bebem
os
nossos olhos.
Por
que é que
o
apertaste contra as minhas 40 têmporas
como
se fosse o único
deus
a quem pertences?
Por
que é que te perguntei
se
apertaste outras têmporas!
Coração,
feriram-te
com
um ramo verde.
*
DESALIENTO
«No quiero que pienses», dices
Tú sabes que sólo en ello
puedo pensar. Pasarán
los días, las noches. Tiempos
vendrán sin nosotros. soles
brillarán en cielos nuevos.
Ecos de campana harán
más misterioso el silencio.
(«No quiero que pienses».)
Yo seguiré pensando en ello.
Quisiera hablarte de hermosas
fábulas, de pensamientos
luminosos,
de jornadas
soñadas,
de flores, vientos,
caricias, ternuras, gracias,
secretos;
pero en la boca me nacen
palabras de fuego.
Como llamas silenciosas
me abrasan por dentro.
Debiera decirte «amor»,
«fantasía», «sueño».
Yo sólo pregunto cómo
fue posible aquello.
Seguiría, paso a paso,
la huella de tu andar. Dentro
de tu vida escondería
la vida que muero.
«No quiero que pienses». Yo
digo que no pienso en ello.
(Cómo podría olvidarlo
sin haberme muerto.)
*
DESALENTO
«Não
quero que penses», dizes
Tu
sabes que só nisso
posso
pensar. Passaram
os
dias, as noites. Tempos
virão
sem nós. Sóis
brilharão
nos novos céus.
Ecos
de sinos tornarão
mais
misterioso o silêncio.
(«Não
quero que penses».)
Eu
continuarei a pensar nisso.
Quisera
falar-te de formosas
fábulas,
de pensamentos
luminosos,
de jornadas
sonhadas,
de flores, ventos,
carícias,
ternuras, graças,
segredos:
mas
na boca nascem-me
palavras
de fogo.
Como
chamas silenciosas
abrasam-me
por dentro.
Deveria
dizer-te «amor»,
«fantasia»,
«sonho».
Eu
só pergunto como
foi
possível aquilo.
Seguiria,
passa a passo,
a
pegada do teu andar. Dentro
da
tua vida esconderia
a
vida que findo.
«Não quero que penses.» Eu
digo que não penso nisso.
(Como poderia esquecê-lo
sem ter morrido.)
*
EL BUEN MOMENTO
Aquel momento que flota
nos toca de su misterio.
Tendremos siempre el presente
roto por aquel momento.
Toca la vida sus palmas
y tañe sus instrumentos.
Acaso encienda su música
sólo para que olvidemos.
Pero hay cosas que no mueren
y otras que nunca vivieron
y las hay que llenan todo
nuestro universo.
Y no es posible librarse
de su recuerdo.
*
O
BOM MOMENTO
Aquele
momento que flutua
nos
toca do seu mistério.
Teremos
sempre o presente
morto
por aquele momento.
Bate
a vida as suas palmas
e
toca os seus instrumentos.
Liga
por acaso a música
só
para que a esqueçamos.
Mas
há coisas que não morrem
E
outras que nunca viveram
E
as há que recheiam todo
o
nosso universo
E não é possível livrar-se
da sua lembrança.
*
EL MUERTO
Aquel que ha sentido una vez en sus manos temblar la
alegría
no podrá morir nunca.
Yo lo veo muy claro en mi noche completa.
Me costó muchos siglos de muerte poder comprenderlo,
muchos siglos de olvido y de sombra constante,
muchos siglos de darle mi cuerpo extinguido
a la hierba que encima de mí balancea su fresca verdura.
Ahora el aire, allá arriba, más alto que el suelo que
pisan los vivos,
será azul. Temblará estremecido, rompiéndose,
desgarrado su vidrio oloroso por claras campanas,
por el curvo volar de los gorriones,
por las flores doradas y blancas de esencias frutales.
(Yo una vez hice un ramo con ellas.
Puede ser que después arrojara las flores al agua,
puede ser que le diera las flores a un niño pequeño,
que llenara de flores alguna cabeza que ya no recuerdo,
que a mi madre llevara las flores:
yo quería poner primavera en sus manos.)
¡Será ya primavera allá arriba!
Pero yo que he sentido una vez en mis manos temblar la
alegría
no podré morir nunca.
Pero yo que he tocado una vez las agudas agujas del pino
no podré morir nunca.
Morirán los que nunca jamás sorprendieron
aquel vago pasar de la loca alegría.
Pero yo que he tenido su tibia hermosura en mis manos
no podré morir nunca.
Aunque muera mi cuerpo, y no quede memoria de mí.
*
O
MORTO
Aquele
que por uma vez sentiu em suas mãos tremer a alegria
não
poderá morrer nunca.
Eu
vejo-o muito claro na minha noite completa.
Custou-me
muitos séculos de morte poder compreendê-lo,
muitos
séculos de esquecimento e de sombra constante,
muitos
séculos a dar o meu corpo como acabado
à
erva que por cima de mim baloiça a sua fresca verdura.
Agora
o ar, lá em cima, mais alto que o solo que pisam os vivos,
será
azul. Oscilará estremecido, rompendo-se,
despedaçado
o seu vidro balsâmico por claras badaladas,
pelo
curvo voar dos gorriões,
pelas
flores douradas e brancas de essências frutadas.
(Uma
vez eu fiz um ramo com elas.
Pode
ser que depois lançasse as flores à água,
pode
ser que as desse a um menino pequeno,
que
enchesse de flores alguma cabeça que já não recordo,
que
a minha mãe as levasse:
eu
queria pousar a Primavera nas suas mãos.)
Será
já Primavera lá em cima!
Mas
eu que por uma vez senti em minhas mãos tremer a alegria
não
poderei morrer nunca.
Mas
eu que por uma vez toquei as agudas agulhas do pinhal
não
poderei morrer nunca.
Morrerão
os que jamais surpreenderam
aquele
vago cruzar da louca alegria.
Mas
eu que tive a sua tíbia formusura na minhas mãos
não
poderei morrer nunca.
Ainda
que morra o meu corpo, e não reste memória de mim.
*
OTOÑO
Otoño de manos de oro.
Ceniza de oro tus manos dejaron caer al camino.
Ya vuelves a andar por los viejos paisajes desiertos.
Ceñido tu cuerpo por todos los vientos de todos los
siglos.
Otoño, de manos de oro:
con el canto del mar retumbando en tu pecho infinito,
sin espigas ni espinas que puedan herir la mañana,
con el alba que moja su cielo en las flores del vino,
para dar alegría al que sabe que vive
de nuevo has venido.
Con el humo y el viento y el canto y la ola temblando,
en tu gran corazón encendido.
*
OUTONO
Outono
de mãos de ouro.
Cinza
de ouro as tuas mãos deixaram cair ao caminho.
Já
voltas a andar pelas velhas paisagens desertas.
Contraído
o teu corpo por todos os ventos de todos os séculos.
Outono,
de mãos de ouro:
com
o canto do mar estalando no teu peito infinito,
sem
espigas nem espinhas que possam ferir a manhã,
com
o alvorecer que banha o céu nas flores do vinho,
para
dar alegria ao que sabe que vive
de
novo vieste.
Com
o fumo e o vento e o canto e a onda tremendo,
no
teu grande coração aceso.
*
PENSAMIENTO DE AMOR
Dejé un instante de pensarte. Había
sucedido algo en ti cuando volviste.
Venías más nostálgico, más triste,
seco tu sol que iluminó mi día.
Alguien -sé quién- que yo no conocía,
alguien que calza sueños de oro, y viste
almas dolientes, te pensó. Caíste
al pozo donde muere la alegría.
¿Por qué fuiste pensado, malherido,
pensamiento de amor?
¿Cómo han podido
pasarte el corazón de parte a parte?
¿Por qué volviste a mí, sufriendo, a herirme?
¿No recuerdas que tengo que ser firme?
¿Es que no ves que tengo que matarte?
*
PENSAMENTO
DE AMOR
Deixei
por um instante de pensar em ti. Tinha-te
sucedido
algo quando voltaste.
Vinhas
mais nostálgico, mais triste,
seco
o teu sol que iluminou o meu dia.
Alguém
– sei quem – que eu não conhecia,
alguém
que calça sonhos de ouro, recordou-te,
e
viste almas doentes. Caíste
ao
poço onde morre a alegria.
Por
que foste lembrado, ferido,
pensamento
de amor? Como puderam
trespassar-te
o coração?
Por que voltaste, sofrendo, a ferir-me?
Não recordas que tenho de ser firme?
É que não vês que tenho de matar-te?
*
EL LIBRO
Irás naciendo poco
a poco, día a día.
Como todas las cosas
que hablan hondo, será
tu palabra sencilla.
A veces no sabrán
qué dices. No te pidan
luz. Mejor en la sombra
amor se comunica.
Así, incansablemente,
hila que te hila.
*
O LIVRO
Irás
nascendo pouco
a
pouco, dia a dia.
Como
todas as coisas
que
falam fundo, será
tua
palavra simples.
Por
vezes não saberão
o
que dizes. Que não te peçam
luz.
Na sombra melhor
o
amor se comunica.
Assim,
incansavelmente,
teia
que te emaranha.
*
José Hierro (Madrid, Espanha; 1922 – 2002)
Tradução: Sandra Santos