Idea Vilariño (Uruguai)


CUÁNDO YA NOCHES MÍAS...

Cuándo ya noches mías
ignoradas e intactas,
sin roces.

Cuándo aromas sin mezclas
inviolados.

Cuándo yo estrella fría
y no flor en un ramo de colores.

Y cuando ya mi vida,
mi ardua vida,
en soledad
como una lenta gota
queriendo caer siempre
y siempre sostenida
cargándose, llenándose
de sí misma, temblando,
apurando su brillo
y su retorno al río.

Ya sin temblor ni luz
cayendo oscuramente.




*



QUANDO JÁ NOITES MINHAS…

Quando já noites minhas
ignoradas e intactas,
sem toques.

Quando aromas sem misturas
inviolados.

Quando eu estrela fria
e não flor num ramo de cores.

E quando já a minha vida,
a minha árdua vida,
em solidão
como uma lenta gota
querendo cair sempre
e sempre sustentada
carregando-se, enchendo-se
de si mesma, tremendo,
apurando o seu brilho
e o seu regresso ao rio.

Já sem tremor nem luz
caindo obscuramente.





*




COMPARACIÓN

Como en la playa virgen
dobla el viento
el leve junco verde
que dibuja
un delicado círculo en la arena
así en mí
tu recuerdo.



*


COMPARAÇÃO

Como na praia virgem
dobra o vento
o leve junco verde
que desenha
um delicado círculo na areia
assim em mim
a tua lembrança.





*




EL AMOR

Un pájaro me canta
y yo le canto
me gorgojea al oído
y le gorgojeo
me hiere y yo le sangro
me destroza
lo quiebro
me deshace
lo rompo
me ayuda lo
levanto
lleno todo de paz
todo de guerra
todo de odio de amor
y desatado
gime su voz y gimo
ríe y río
y me mira y lo miro
me dice y yo le digo
y me ama y lo amo
- no se trata de amor
damos la vida-
y me pide y le pido
y me vence y lo venzo
y me acaba y lo acabo.




*




O AMOR

Um pássaro canta-me
e eu canto-lhe
gorgoleja-me ao ouvido
e eu gorgolejo-lhe
fere-me e eu sangro
destroça-me
quebro-o
desfaz-me
rasgo-o
ajuda-me
levanto-o
pleno de paz
pleno de guerra
pleno de ódio de amor
e desatado
geme a sua voz e gemo
ri e rio
e olha-me e olho-o
diz-me e digo-lhe
e ama-me e amo-o
- não se trata de amor
damos a vida –
e pede-me e peço-lhe
e vence-me e venço-o
e acaba-me e acabo-o.



*




Idea Vilariño (Montevideo, Uruguai; 1920-2009)

Tradução: Sandra Santos

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