Poemas do livro Silente / En Silencio 📘

O silĂȘncio. Os poemas deste livro deslizam entre o silĂȘncio. Um silĂȘncio iniciĂĄtico e um silĂȘncio culminante. Dele se parte e a ele se chega. 

El silencio. Los poemas de este libro se deslizan entre el silencio. Un silencio inicial y un silencio culmen. De Ă©l se parte y a Ă©l se llega. 

Mario RodrĂ­guez GarcĂ­a, no posfĂĄcio do livro



uma aldeia por entre a névoa
da madrugada
a luz do poste elétrico
fundida
diante da paisagem
repouso o meu peito
espreitando Ă  janela
as figuraçÔes
dum quase morte em chama
do que ainda tem pulsação
Ă  procura do que Ă© seu
ou dum alguém
(difuso
etéreo)
sĂł pĂł
só recordação
 
 
una aldea entre la niebla
de madrugada
la luz de la farola
disuelta
ante el paisaje
apoyo mi pecho
espiando por la ventana
la imagen
de la muerte prĂłxima y cĂĄlida
de lo que aĂșn tiene pulso
en busca de lo que es suyo
o de alguien
(difuso
etéreo)
solo polvo
solo memoria
 
 
*
 
 
luzinhas brilham intermitentes na noite
sinalizam a solidĂŁo
dessa aldeia pessoal e intransferĂ­vel
quantos milénios foram precisos
para acharmos o nosso lugar
o pedaço de terra que é nosso por inteiro?
lĂĄ
habitamos uma casa
com grandes sacadas
para outras casas
 
 
lucecitas titilan en la noche
marcan la soledad
de esta aldea personal e intransferible
¿cuĂĄntos milenios fueron precisos
para encontrar nuestro lugar
el pedazo de tierra que nos pertenece?
allĂ­
habitamos una casa
con grandes balcones
abiertos a otras casas
 
 
*
 

o bicho da madeira
corrĂłi no silĂȘncio
da famĂ­lia
 
 
la carcoma
corroe en el silencio
de la familia
 

*
 
 
quem me deixou ao relento
aos dois anos de idade?
a memĂłria escorre
amor sobre as feridas
quem me ensinou a sonhar?
de que voz me falam
que no ventre encerro
um nado-morto
a quem aludem os ancestros
com uma oferenda
ao menos um pouco de paz
um punho contra o plexo
o compasso de anos e anos
com um pé na infùncia
e outro no futuro
 
 
¿quiĂ©n me dejĂł al relente
con solo dos años?
la memoria derrama
amor sobre las heridas
¿quiĂ©n me enseñó a soñar?
de dĂłnde la voz que me dice
que llevo en el vientre
un niño muerto
a quiénes aluden los ancestros
con su ofrenda
al menos un poco de paz
un puño contra el pecho
el trånsito de los años
con un pie en la infancia
y otro en el futuro
 
 
*

 
hĂĄ morte muita morte
nos gestos
no ventre
na fundura
que não alcanço
porque me detenho dobrada
sobre a infĂąncia
todos os dias
rememoro o estio
combatemos sempre
donde desertĂĄmos
o corpo Ă© o caudal
nas minhas mĂŁos
as fissuras
 
 
hay muerte mucha muerte
en los gestos
en el vientre
en lo hondo
que no alcanzo
porque me detengo quebrada
sobre la infancia
todos los dĂ­as
recuerdo el verano
combatimos siempre
donde desertamos
el cuerpo es el caudal
en mis manos
las grietas
 
 
*
 

cientes do belo
somos passageiros
nĂŁo vamos sĂłs
 
 
conscientes de la belleza
somos pasajeros
no vamos solos
 

*
 
 
ousara ser simples
como o vento
que passa pela ĂĄrvore
e a agita suavemente
insondĂĄvel Ă©
o movimento dela
adentrando no real
talvez eu habite
no interior do tronco
e me vĂĄ alteando
sem ciĂȘncia
e assista ao baile de duas vespas
ao acasalamento de dois pirilampos
Ă  maternidade do ninho
Ă  multitude da cor
ao voo sem retorno
Ă  beleza por si sĂł
 
 
quise ser sencilla
como el viento
que acaricia los ĂĄrboles
y los agita con dulzura
insondable es
su movimiento
visto de fuera
quizĂĄ yo habite
en su tronco
y me transforme
sin saberlo
y asista al vuelo de las avispas
al apareamiento de las luciérnagas
a la maternidad del nido
al prodigio del color
al vuelo sin regreso
a la belleza sola
 
 
*
 

volta um pensamento de amor
ao coração cansado
num corpo que nĂŁo recorda
a sua eternidade
o homem que sonha
extravasa as costuras
resvala sobre outro corpo
sutura e perscruta
Ă© o vento
caminha até à fé
e cimenta a beleza,
volta um pensamento de amor
que fixa sobre o cume
o nome que damos Ă s coisas
sombrio e intocĂĄvel
Ă  margem do que suspeitamos
ser ainda mais belo
 
 
vuelve un pensamiento de amor
al corazĂłn cansado
en un cuerpo que no recuerda
su eternidad
el hombre que sueña
rebasa las costuras
se derrama sobre otro cuerpo
sutura e indaga
es el viento
camina hasta creer
e inventa la belleza,
vuelve un pensamiento de amor
que afirma en la cumbre
el nombre que damos a las cosas
oscuro y definitivo
al margen de lo que sospechamos
que es aĂșn mĂĄs hermoso
 
 
*
 
os corpos se atraem
antes de qualquer sabedoria
os sentidos se apuram 
para a grande madrugada
mas a mente trai
e o medo trucida
todo e qualquer pensamento de amor
somos menores
nĂŁo nos atrevemos
perante o precipĂ­cio
as mĂĄscaras nĂŁo nos permitem voar
 
 
los cuerpos se atraen
al margen de cualquier saber
los sentidos se preparan
para el gran amanecer
pero la mente traiciona
y el miedo confunde
todo y cualquier intuiciĂłn de amor
somos mås pequeños
no nos atrevemos
ante el abismo
las mĂĄscaras no permiten volar
 
 
*
 

as paisagens canadenses
sĂŁo nĂ­tidas
como os pensamentos dos passageiros
deste trajeto porto-barcelos
a partida Ă© um orĂĄculo
vigiando a minha impaciĂȘncia
tudo Ă© calmo e claro:
do comboio eu sou o movimento
 
 
el paisaje canadiense
es nĂ­tido
como el pensamiento de los viajeros
de este viaje oporto-barcelos
la partida es un orĂĄculo
atento a mi impaciencia
todo estĂĄ en calma:
de este tren yo soy el movimiento
 
 
*
 

os pés pisam a erva
e o meu olhar se espraia
num tempo dobrando o tempo
sou uma criança que perscruta
a pulsação do ínfimo
agrego-me multiplico-me
à agitação dos animais e das crianças
caio de amores pelo indizĂ­vel
aproprio-me da fragrĂąncia das flores
e parto em busca do vento
que me traga de novo
a esta imagem
que eu sei de cor
 
 
los pies pisan la hierba
y mi mirar se expande
en un tiempo que esquina al tiempo
soy una niña que atiende
el pulso de lo Ă­nfimo
me sumo me multiplico
a la inquietud de animales y niños
me enamoro de lo indescifrable
me apropio de la fragancia de las flores
y parto en busca del viento
que me devuelva otra vez
a esta imagen
que conozco de memoria
 
 
*
 

em split os homens emigram
sem sair do lugar
infinito Ă© flutuar
como aquela ave
vagueio
sem segundas intençÔes
 
 
en split los hombres emigran
sin salir del lugar
el infinito estĂĄ flotando
como aquel ave
vago
sin segundas intenciones
 
 
*

 
o azul das tardes
remonta ao oriente
dum pensamento
sou toda escuta e visĂŁo
a minha cabeça é um cosmos
dos olhos escorrem-me
possĂ­veis sinais de infinito
nĂŁo quero ser excelsa
mas transbordam em mim
as cores que ainda nĂŁo vemos
ainda assim pressentimos
estou no meio dos homens
– sou o silĂȘncio
 
 
el azul de las tardes
remonta al oriente
de un pensamiento
permanezco atenta
mi cabeza es un cosmos
de los ojos me resbalan
posibles señales del infinito
no quiero ser importante
pero me atraviesan
los colores que no vemos
aunque los intuyamos
habito entre los hombres
– soy el silencio










Alguns poemas do livro "Silente / En Silencio", em edição bilingue reversa portuguĂȘs-espanhol. O livro foi publicado no Brasil, em 2021, pela editora Laranja Original. As traduçÔes para o espanhol sĂŁo de Mario RodrĂ­guez GarcĂ­a.


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